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Foto do escritorRaíze Mendes

Primeiro registro de bloom de Euglena sanguínea em lagos amazônicos.

Atualizado: 23 de ago.




As mudanças climáticas resultam em fenômenos e processos interligados que estão alterando o clima da Terra ao longo do tempo. Os fenômenos El Niño e La Niña, independentes ou quando alinhados às condições no Atlântico Tropical, são os mais significativos, pois estão diretamente relacionados às secas extremas, inundações e altas precipitações na região amazônica.


O ano de 2023, em particular, foi marcado por uma seca extrema que teve implicações profundas na dinâmica ambiental e social da região.


Entre as consequências desse evento climático, além da mortandade dos botos (Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis) nos lagos Tefé e Coari, observou-se um bloom específico de algas nestes locais. Alguns estudos têm relacionado o bloom de organismos fotossintéticos às mudanças climáticas. A proliferação de algas tem o potencial de causar danos ambientais (e.g. eutrofização, redução de oxigênio, mortandade de peixes e produção de toxinas). Praticamente não há registros de bloom em sistemas naturais com potencial tóxico, com a exceção de uma proliferação intensa das cianobactérias Anabaena sp. e Microcystis sp. no rio Tapajós no estado do Pará. Até o momento, não existem informações disponíveis sobre o bloom de euglenas na Amazônia, especialmente Euglena sanguinea (Ehrenberg). Neste contexto, em face à seca extrema ocorrida em 2023, a Aqua Viridi registrou o inédito surgimento do bloom de Euglena sanguinea em dois lagos de água preta da região amazônica.



O lago Tefé, localizado na margem direita do médio rio Solimões, é um lago de água preta e tem cerca de 60 km de extensão. O Lago Coari é um lago de água preta e recebe água do rio Coari, um afluente na margem esquerda do rio Solimões e, sua extensão é estimada em cerca de 530 Km. As amostras foram coletadas acima do ponto 1 do lago Tefé em outubro de 2023. Já no lago Coari, as amostras foram coletadas no ponto centro do canal em novembro de 2023. Foram realizadas coletas qualitativas por meio de arrastos horizontais, utilizando-se uma rede de fitoplâncton com malha de 20 µm. As coletas quantitativas foram realizadas com a utilização de um recipiente graduado de 5 L. Em laboratório, as análises qualitativas foram realizadas por meio de sucessivas lâminas em microscópio óptico. Para a medição dos tamanhos das células de E. sanguinea, foram selecionadas 10 células de cada formato (alongada e redonda/ovais) de cada lago, onde foi utilizado um microscópio óptico com ocular micrométrica (objetiva 10 x). Para as análises quantitativas, o número de células foi contado utilizando-se uma câmera de Sedgewick Rafter.


Foi observado um bloom de coloração vermelha em ambos os lagos estudados. Esta mancha vermelha se refere a predominância da microalga de água doce Euglena sanguinea. As células de E. sanguinea assumiram formas alongadas e redondas nas colorações verde e vermelha. As células alongadas apresentaram tamanhos médios de 85,4 ± 10,6 µm e as células redondas de 38,1 ± 4,98 µm no lago Tefé. Já no lago Coari, às células alongadas apresentaram tamanhos médios de 64,9 ± 4,3 µm e as células redondas de 48,4 ± 5,5 µm. A densidade de E. sanguinea no lago Tefé foi de 64666 células/mL e 42000 células/mL no lago Coari. A composição do fitoplâncton no lago Tefé foi composta por cinco classes: Zygnemaphyceae (7 táxons), Bacilariophyceae (4 táxons), Chlorophyceae (3 táxons), Cyanophyceae (3 táxons) e Euglenophyceae (1 taxon).


O fenômeno observado pode ser em parte explicado pelo fato de E. sanguinea formar um bloom (de cor avermelhada) na superfície da água quando as temperaturas excedem 25ºC, como ocorreu em ambos os lagos estudados em que as temperaturas registradas foram superiores a 39ºC. A coloração avermelhada acontece devido à presença de grânulos (hematocromos) que protegem a clorofila das células expostas a intensa radiação solar. A presença de outras espécies na comunidade fitoplanctônica no lago Tefé durante a seca extrema em 2023, destaca a necessidade de monitorar a dinâmica desses organismos, considerando sua abundância e composição, em relação a variação do nível da água. Isso é fundamental para facilitar comparações futuras em eventos extremos.


Essa observação e identificação do bloom durante a seca de 2023 na Amazônia aconteceu através de nossos biólogos Renan Gomes, Raíze Mendes e Maiby Glorize, que se deslocaram voluntariamente para a região de Tefé no período mais alarmante, com apoio da bióloga Fabiane Almeida a Aqua Viridi vem contribuindo para que ações possam ser identificadas e tratadas para mitigar o fenômeno na região amazônica.



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